Ontem tive um dos melhores dia dos pais que uma pessoa pode ter. Estou meio que me reaproxiamndo da minha filha. Já fazia muito que nao ficavámos juntos em familia. Ontem passamos o dia inteiro juntos. Eu, ela, e minha mulher, que nâo é a mãe dela. Fomos almoçar com pessoas da minha família e jantar com pessoas da familia da minha mulher. Tudo num puta clima gostoso. Como um bom taurino adoro familia, mesmo sabendo que minha filha nao é lá muito chegada a esse tipo de reunião, ela surpreedentemente não se aborreceu, ou se aborreceu muito pouco. Sou daqueles que adora a mesa cheia de gente, de ficar convarsando horas e horas depois do almoço ou do jantar e ontem foi assim o dia inteiro. Tenho o orgulho de ter uma familia maravilhosa, tanto do meu lado como da minha mulher. Familia que me aceitou como um filho. Vou confessar que nunca achei esse negocio de dia dos pais uma coisa importante, mas foi com a familia da minha mulher que descobri o como é legal ser pai. Vendo o carinho que os filhos tem pelo meu sogro, meu cunhado com os filhos, fui vendo que tinha mais gente que pensava como eu e nao tinha vergonha de ser, nem mardo nem pai. E foi com minha mulher que aprendi a olhar a filha como filha, melhorando significantemente minha relação com ela. Vendo-a como mulher e nao mais como uma menininha. Minha mulher, mesmo sem ser mãe ainda, me colocou num lugar de pai como eu nunca estive. E ontem ao levarmos minha filha pra casa, ouvi dela algo que foi quase uma confissão. Um pedido de ajuda quem sabe e confia que tem pai pra fazer. Esse pedido teve o efeito em mim de que por mais que tenhamos discutido e tido nossas diferenças, e ainda temos,vale muito a pena se manter coerente com meus principios e meu modo de ser. Pois o pai, a meu ver, deve ser a figura que cria, educa, mostra e em certo momento tem que deixar o barco correr sozinho, mas deixando claro que ale se encontra um porto seguro. Hoje me sinto assim. Obrigado minha familia, minha mulher e minha filha.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
quinta-feira, 6 de maio de 2010
PASQUALE CIPRO NETO
"Não há o que não haja"
MÁRCIO RIBEIRO É AMIGO de longa data. Foi meu aluno, nos idos de 1980 e tal. Um belo dia, numa aula sobre o antológico poema "Canção do Exílio", de Murilo Mendes (sim, o de Murilo Mendes, paródia genial da obra clássica de Gonçalves Dias), Márcio fez uma belíssima observação sobre este verso: "Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda". Nesse passo, o mineiro Mendes, mais do que irônico, descreve, inexoravelmente, uma cena típica do Brasil de então e de hoje: a família quebrando o pau ("os sururus em família") num ambiente postiçamente "refinado" (pela presença de um representante da cultura importada: "têm por testemunha a Gioconda").
Ao analisar o texto, reforcei a ideia do choque realidade/aparência (sururus/Gioconda) presente no verso de Mendes. Márcio interveio e somou um dado importante: o sorriso maroto de Monna Lisa, como que a olhar a baixaria e a rir-se, quase de soslaio, quase com sarcasmo.
É sempre bom lembrar que a Gioconda é a Monna Lisa, obra-prima do gênio italiano Leonardo da Vinci.
No italiano antigo e literário, "monna" é "senhora", com tom de respeito ou de cortesia. Também é sempre bom lembrar que as provas de português das instituições mais importantes do país exigem do candidato algo que já comentei inúmeras vezes neste espaço: a intertextualidade, o diálogo que se dá entre os textos, entre o texto que leio e os que eu deveria ter lido para entender o que leio.
Um belo dia crio coragem e escrevo sobre o poema todo do grande Murilo Mendes. Só não sei se o espaço seria suficiente. O texto dele é um interminável rosário de referências.
Pois bem, voltando ao querido Márcio, quis o destino que, anos mais tarde, trabalhássemos juntos na TV Cultura, onde ele fez o ótimo e saudoso "X-Tudo". E quis (também) o destino que nos tornássemos vizinhos de andar. Essa vizinhança nos rende algumas boas conversas, madrugadas (e às vezes tardes) afora.
Numa dessas conversas, recente, Márcio me "soprou" uma frase, de um amigo dele: "Não há o que não haja". Maravilha, não? Leia de novo e pense bem: "Não há o que não haja". Talvez seja necessário lembrar que "Não há o que não haja" não é "Não há o que não há", frase que poderia ser dita, por exemplo, em uma situação em que se quisesse enfatizar a ideia de que não adianta forçar: o que não existe não existe. E fim.
E "Não há o que não haja"? Note, por favor, a presença do subjuntivo ("haja"), modo verbal da hipótese, da possibilidade. O mínimo que se pode dizer de "Não há o que não haja" é justamente que a presença do presente do subjuntivo torna possível a interpretação de que tudo pode existir, de que não existe o que não possa existir... Complicadinho, não?
Complicado e talvez enigmático, como o sorriso da misteriosa Gioconda, que, para uns, é a mãe de Da Vinci e, para outros, a senhora (Monna) Lisa Gherardini, mulher de Francesco Bartolomeo del Giocondo.
Voltando ao presente do subjuntivo, é bom (re)lembrar que em muitos e muitos casos a opção entre o indicativo e o subjuntivo passa longe da ideia do certo/errado. Em "Acredito que há candidatos honestos", por exemplo, nota-se mais certeza do que dúvida (em relação à existência de candidatos honestos). Já em "Acredito que haja candidatos honestos", a presença do presente do subjuntivo ("haja") faz a dúvida ser maior do que a certeza... É isso.
"Não há o que não haja"
A presença do presente do subjuntivo torna possível a interpretação de que não existe o que não possa existir |
MÁRCIO RIBEIRO É AMIGO de longa data. Foi meu aluno, nos idos de 1980 e tal. Um belo dia, numa aula sobre o antológico poema "Canção do Exílio", de Murilo Mendes (sim, o de Murilo Mendes, paródia genial da obra clássica de Gonçalves Dias), Márcio fez uma belíssima observação sobre este verso: "Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda". Nesse passo, o mineiro Mendes, mais do que irônico, descreve, inexoravelmente, uma cena típica do Brasil de então e de hoje: a família quebrando o pau ("os sururus em família") num ambiente postiçamente "refinado" (pela presença de um representante da cultura importada: "têm por testemunha a Gioconda").
Ao analisar o texto, reforcei a ideia do choque realidade/aparência (sururus/Gioconda) presente no verso de Mendes. Márcio interveio e somou um dado importante: o sorriso maroto de Monna Lisa, como que a olhar a baixaria e a rir-se, quase de soslaio, quase com sarcasmo.
É sempre bom lembrar que a Gioconda é a Monna Lisa, obra-prima do gênio italiano Leonardo da Vinci.
No italiano antigo e literário, "monna" é "senhora", com tom de respeito ou de cortesia. Também é sempre bom lembrar que as provas de português das instituições mais importantes do país exigem do candidato algo que já comentei inúmeras vezes neste espaço: a intertextualidade, o diálogo que se dá entre os textos, entre o texto que leio e os que eu deveria ter lido para entender o que leio.
Um belo dia crio coragem e escrevo sobre o poema todo do grande Murilo Mendes. Só não sei se o espaço seria suficiente. O texto dele é um interminável rosário de referências.
Pois bem, voltando ao querido Márcio, quis o destino que, anos mais tarde, trabalhássemos juntos na TV Cultura, onde ele fez o ótimo e saudoso "X-Tudo". E quis (também) o destino que nos tornássemos vizinhos de andar. Essa vizinhança nos rende algumas boas conversas, madrugadas (e às vezes tardes) afora.
Numa dessas conversas, recente, Márcio me "soprou" uma frase, de um amigo dele: "Não há o que não haja". Maravilha, não? Leia de novo e pense bem: "Não há o que não haja". Talvez seja necessário lembrar que "Não há o que não haja" não é "Não há o que não há", frase que poderia ser dita, por exemplo, em uma situação em que se quisesse enfatizar a ideia de que não adianta forçar: o que não existe não existe. E fim.
E "Não há o que não haja"? Note, por favor, a presença do subjuntivo ("haja"), modo verbal da hipótese, da possibilidade. O mínimo que se pode dizer de "Não há o que não haja" é justamente que a presença do presente do subjuntivo torna possível a interpretação de que tudo pode existir, de que não existe o que não possa existir... Complicadinho, não?
Complicado e talvez enigmático, como o sorriso da misteriosa Gioconda, que, para uns, é a mãe de Da Vinci e, para outros, a senhora (Monna) Lisa Gherardini, mulher de Francesco Bartolomeo del Giocondo.
Voltando ao presente do subjuntivo, é bom (re)lembrar que em muitos e muitos casos a opção entre o indicativo e o subjuntivo passa longe da ideia do certo/errado. Em "Acredito que há candidatos honestos", por exemplo, nota-se mais certeza do que dúvida (em relação à existência de candidatos honestos). Já em "Acredito que haja candidatos honestos", a presença do presente do subjuntivo ("haja") faz a dúvida ser maior do que a certeza... É isso.
terça-feira, 16 de março de 2010
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